terça-feira, 22 de novembro de 2011

Hospital infantil é construído com dinheiro de doações da população


Leilane Menezes

O Hospital da Criança de Brasília José Alencar, com inauguração marcada para amanhã, no Setor de Áreas Isoladas Norte (Sain), é feito de muito além de tijolos e cimento. Tem em suas paredes um pouco de sonho e solidariedade. A Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace) reuniu R$ 17 milhões para a construção do centro de saúde. O dinheiro veio de doações de pessoas físicas e empresas. A intenção era montar um hospital diferente, mais humanizado, sem a aparência típica dos corredores brancos e frios, onde nada se parece com alegria. O hospital é público, e caberá ao Governo do Distrito Federal (GDF) gerenciá-lo.

As cores estão presentes desde a entrada, enfeitada com um cata-vento, até os consultórios. Logo na recepção, um trenzinho de madeira e sofás garantem o conforto de quem chega. Ainda no primeiro cômodo do prédio, há um piano, que também veio de doação. Nele, músicos da Universidade de Brasília (UnB) e da Escola de Música de Brasília (EMB) devem se revezar em apresentações. Em lugar das comuns salas de espera, há duas brinquedotecas repletas de livros infantis. Uma regra em especial chama a atenção. Ali, as crianças devem ser chamadas pelo nome, assim como os pais. Para que isso seja possível, todos ganharão um crachá. Uma cafeteria deve ser inaugurada em breve.

O centro de saúde oferecerá todas as especialidades pediátricas, entre elas a oncologia, para pacientes até 18 anos. As obras começaram em 2005, em terreno cedido pela Secretaria de Saúde do DF. Foram necessários R$ 15 milhões somente para equipar o hospital. O GDF e o Ministério da Saúde dividiram a conta. O hospital abre as portas com a primeira etapa concluída, o Bloco I. Ele tem 7 mil metros quadrados e vai funcionar como ambulatório. As crianças terão acesso consultas, exames, quimioterapia e hemodiálise, entre outros cuidados.

Serviços que antes eram prestados em lugares como Hospital de Base e Hospital de Apoio passam a ser administrados pela equipe do Hospital da Criança, que terá como diretor o médico Renilson Rehem. “Hoje, não existe serviço ambulatorial exclusivo para crianças em lugar nenhum. Quando elas precisam de um cateter, por exemplo, têm de disputar lugar na fila com acidentados, pessoas que tiveram AVC. Agora, isso vai mudar”, explicou a presidente da Abrace, Ilda Peliz (leia Personagem da notícia).

Dever cumprido
Para Ilda, a inauguração tem um gosto especial. “A sensação é de dever cumprido. Consegui realizar um sonho, que também é dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), das famílias que têm alguém com câncer”, comemorou. “Eu tive uma filha com essa doença. Naquela época, sonhei e desejei que não precisasse ficar correndo ora no Base, ora no Apoio, ora na rede particular. Aqui a criança vai entrar e ter todo o diagnóstico, todos os exames. Não fará nenhum procedimento fora. Eu fico muito feliz em ter colaborado para trazer conforto e dignidade.”

Os usuários agradecem. Os pequenos Nayram Alejandro Messias da Silva, 5 anos, Beatriz Ferreira, 7, e Isabella Rodrigues Reis, 11, conheceram a brinquedoteca na tarde de ontem, antes da inauguração. “Aqui é muito mais legal. Tem livro, historinha”, destacou Beatriz. Os pais também comemoram as mudanças. “Gostei muito do clima daqui. É bem feliz. Isso diminui a tristeza de vir ao hospital. Nós viajamos 12 horas a cada três meses para fazer o tratamento em Brasília”, disse Mirella de Jesus Teixeira, 33, mãe de Ana Júlia, 3. A menina sofre de problemas renais e vive em Bom Jesus da Lapa (BA), onde não há especialistas para cuidar dela.

A única reclamação diz respeito ao transporte público que leva ao local onde o hospital será inaugurado. “A Secretaria de Transportes poderia dar mais opções de linhas diretas para esse destino. Não é fácil chegar aqui sem carro”, queixou-se Alessandra de Almeida Costa, 30 anos, mãe de Luiz Arthur de Almeida Costa, que busca atendimento para problemas renais e mora em São Sebastião.

Falta ainda a segunda etapa de obras, para entregar à população o Bloco II. Este ficou a cargo do GDF. A promessa é de começar a construí-lo em 2012. O bloco deverá ter 14 mil metros quadrados e custará R$ 28 milhões. Com a conclusão dessa etapa, será possível atender 324 mil pacientes por ano. “Há possibilidade de parcerias com uma ONG séria, que já prestou serviços em locais como o Haiti. Eles trazem o hospital modulado, pronto, em um navio. Dessa maneira, ficaria pronto em um ano”, esclareceu Ilda Peliz.

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br

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