domingo, 30 de outubro de 2011

POEMA

Cidade dos Reis
Janduhi Medeiros 

Quando atraquei em Natal,
Ainda nos idos das casas noturnas,
As ondas da resistência espumavam liberdade
Nos portos das praças com a âncora da tropicália.

Câmara Cascudo era um troféu solitário,
Que a Junqueira Aires exibia ao mundo dos hábitos. 
Vivi a atmosfera mascate da Ribeira.

Circulavam nas ruas os trilhos dos armazéns
E a lembrança do encontro militar que celebrou
A aventura da guerra. 

O porto adoçava o movimento dos cabarés,
Aroma de navios entupidos de manufaturas,
Restos de grãos pelo crepúsculo, com a calçada 
Que dava um gosto de açúcar ao ar.
O entardecer das Rocas 
Oferecia tapiocas nativas aos bares da prosa.

Invariavelmente,
O terminal de passageiros anunciava partida de carruagens 
Lotadas de retirantes com destino às chaminés do sul.

A triste viagem movia os sentimentos da melancolia
Nos caminhos da injustiça
Como um barco atracado no verão, num leito de lágrimas.

As tardes eram de café
Tardes aromáticas de repartições,
Porque não só os retirantes, o estivador,
As esquinas, as vendas, mas a política, a burocracia
Por ali degustavam as tardes
Contemplando o rio que deu origem a tudo.

A descoberta do Potengi foi de dor
A nau do além-mar ancorou entre o manguezal
E arquitetou o forte combate.
Talvez por isso o verão amargo da Ribeira
Tenha construído o sabor açucarado da vida,
Como calor de canavial, sangue de entardecer,
Gosto de mel nas águas salgadas do cais.

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